domingo, 16 de março de 2014

Você sabe estudar? Parte 1

"Não se pode ensinar coisa alguma a um homem. Apenas se pode ajudá-lo a encontrá-la dentro de si mesmo." [Galileu Galilei]

Groucho Marx
1. Síndrome de Groucho Marx

Em mais de 40 anos como professor de matemática, cataloguei as três queixas mais comuns dos estudantes:

a) Tenho déficit de atenção.
b) Não consigo aprender. Isso não me entra na cabeça.
c) Sou burro(a)! Tenho embotamento do raciocínio.

Groucho Marx dizia: "Eu não costumo frequentar clubes que me aceitem como sócio."

Você estará agindo exatamente como Groucho Marx, quando repete uma das frases acima. Na verdade, tudo não passa de uma forma de fugir do desafio ou de se justificar.

O pior é ver que alguns espertalhões se aproveitam da ingenuidade alheia para criar "doenças", como déficit de atenção, por exemplo. Para ganhar credibilidade (e bilhões de dólares), conseguem inserir a suposta doença no catálogo da OMS, e, a partir daí, intoxicar os incautos com remédios caros, ineficientes e que criam outros problemas para o indivíduo, como irritabilidade, insônia, etc.

Dica: Pare de acreditar em tudo o que lhe dizem para justificar seus problemas, em vez de resolvê-los. Procure formas naturais de resolver seus problemas, sem consumir lixo.


2. Como funciona o cérebro?

Em minhas pesquisas para a dissertação de Mestrado resolvi desenvolver um estudo baseado em Redes Neurais Artificiais (RNAs).

As RNAs se fundamentam no conceito de neurônio artificial, que foi criado em 1943, a partir dos estudos de um médico (McCulloch) e de um matemático (Pitts). O neurônio artificial foi equacionado por Pitts a partir das funções do neurônio biológico, definidas por McCulloch.

2.1 Neurônio biológico

É dividido em três seções: o corpo da célula, os dendritos e o axônio, cada um com funções específicas, porém complementares. O corpo do neurônio mede apenas alguns milésimos de milímetro, e os dendritos apresentam poucos milímetros de comprimento. O axônio é mais longo, e, em geral, tem calibre uniforme. Os dendritos têm por função receber as informações (impulsos nervosos) oriundas de outros neurônios e conduzi-las até o corpo celular, onde é processada, gerando novos impulsos, que são transmitidos a outros neurônios, passando através do axônio até os dendritos dos neurônios seguintes.

O ponto de contato entre um axônio e um dendrito é chamado de sinapse. É através das sinapses que os nodos se unem funcionalmente, formando redes neurais. As sinapses funcionam como válvulas, e são capazes de controlar a transmissão de impulsos (fluxo de informação) entre os nodos na rede neural. O efeito das sinapses é variável, o que dá ao neurônio sua capacidade de adaptação. Os sinais provindos dos neurônios pré-sinápticos são transmitidos para o corpo do neurônio pós-sináptico, onde são comparados com os outros sinais recebidos por ele.

Figura 1 - Neurônio biológico
Se o potencial de um intervalo curto de tempo é suficientemente alto, a célula "dispara", produzindo um impulso que é transmitido para as células seguintes (nodos pós-sinápticos). Para que este disparo ocorra, é preciso que os impulsos das sinapses reduzam este nível para cerca de -50mV. Neste momento, o fluxo de sódio e de potássio é invertido, e o gradiente do interior da célula torna-se, subitamente, positivo em relação ao exterior. Esta inversão de gradiente se traduz em uma alteração na polaridade de sua membrana, que faz com que o impulso nervoso se propague pelo axônio até suas conexões sinápticas, seguindo-se um período de descanso (Figura 2). Este sistema simples é responsável pela maioria das funções realizadas pelo cérebro humano. A capacidade de realizar funções surge com a operação em paralelo de todos os 10^11 (dez elevado a onze) nodos do cérebro.

Figura 2 - Potencial de ação de um neurônio

2.2 Neurônio artificial

O neurônio artificial consiste de uma simplificação do que se sabe a respeito do neurônio biológico. A descrição matemática resultou em um modelo com n terminais de entrada, que representam os dendritos, e apenas um terminal de saída, que representa o axônio. Para emular o comportamento das sinapses, os terminais de entrada do neurônio artificial têm pesos acoplados, cujos valores podem ser positivos ou negativos, dependendo de as sinapses correspondentes serem inibitórias ou excitatórias. Os pesos determinam em que grau o neurônio deve considerar sinais de disparo que ocorrem naquela conexão (Figura 3).

Figura 3 - Neurônio de McCulloch e Pitts

[Fonte: ARAUJO, M. A. G. Previsão de demanda de energia elétrica por meio de Redes Neurais Artificiais. Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2005, em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4963/000507113.pdf?sequence=1]


3. Nove cérebros em um só

Em seu livro mais famoso, Estruturas da Mente, de 1983, Howard Gardner descreve sete dimensões da inteligência (visual/espacial, musical, verbal, lógico-matemática, interpessoal, intrapessoal e corporal/cinestética). Desde a publicação de Estruturas da Mente, Gardner propôs duas novas dimensões de inteligência: a naturalista e a existencialista.

Inteligências Múltiplas de Howard Gardner:

1. Lógico-matemática – Pessoas com essa inteligência mais proeminente desenvolvem mais facilmente habilidades em Matemática e em raciocínios lógico-dedutivos.

2. Linguística – Os indivíduos com amplas habilidades em escrita, leitura e em aprender idiomas, por exemplo, têm este tipo de inteligência mais desenvolvida.

3. Espacial – Este tipo de inteligência está ligado à habilidade de lidar com objetos do concreto e sua localização.

4. Físico-cinestésica – As pessoas que têm grande aptidão para controlar os movimentos do corpo possuem este tipo de inteligência mais desenvolvida.

5. Inter e intrapessoal – Refere-se à capacidade de entender a si mesmo e ao outro, relacionar-se bem e ser comunicativo.

6. Musical – Aqui estão as pessoas que possuem grande aptidão para tocar instrumentos musicais.

7. Natural – Este tipo de inteligência contempla o desenvolvimento de habilidades biológicas e de entendimento da natureza.

8. Existencial – Engloba as capacidades filosóficas, de refletir sobre a própria existência.

9. Financeira – Esta não está na lista de Gardner, mas acredito que deveria estar, pois é bem pouco desenvolvida por 99% da população mundial, uma vez que 1% da população adulta detém 40% da riqueza mundial (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090324_desigualdadeestudo_rw.shtml).

Na verdade, Gardner não parou por aí e afirmou que podemos ter mais de 700 "inteligências". Isto nos mostra o grau de complexidade do nosso cérebro.


4. Plasticidade Cerebral

Plasticidade cerebral é a capacidade que o cérebro tem em se remodelar, com base nas experiências do indivíduo, reformulando as suas conexões com base em suas necessidades e em fatores ambientais.

Há alguns anos, acreditava-se que o tecido cerebral não tinha capacidade regenerativa e que o cérebro possuía um programa genético fixo. No entanto, essa teoria não conseguia explicar o fato de pacientes com lesões severas alcançarem, através de terapia, a recuperação de muitas das funções consideradas irremediavelmente perdidas.

Porém, com o aumento das pesquisas sobre o cérebro e do conhecimento de suas funções, concluiu-se que este é muito mais maleável do que até então se imaginava, modificando-se sob o efeito da experiência, das percepções, das ações e dos comportamentos.

Desse modo, podemos referir que a relação que o ser humano estabelece com o meio produz grandes modificações no seu cérebro, permitindo uma constante adaptação e aprendizagem ao longo de toda a vida. Assim, o processo da plasticidade cerebral torna o ser humano mais eficaz.

Os mecanismos através dos quais ocorrem os fenômenos de plasticidade cerebral podem incluir modificações neuroquímicas, sinápticas, do receptor neural, da membrana e ainda modificações de outras estruturas neurais.


5. Plasticidade Sináptica

As sinapses são conexões especializadas que permitem transmitir informação entre os neurônios. São estruturas dinâmicas que governam e moldam o fluxo de informação do circuito nervoso.

Desse modo, a plasticidade sináptica consiste na capacidade de rearranjo por parte das redes neurais. Ou seja, perante cada experiência nova do indivíduo, as sinapses são reforçadas, permitindo a aquisição de novas respostas ao meio ambiente.

Por isso, a plasticidade sináptica constitui um dos mecanismos mais importantes da plasticidade cerebral, permitindo igualmente que uma lesão ao nível da transmissão de informação neural seja recuperada através da criação de outras redes neurais que possam substituir os danos causados pela lesão.

Dica: Ovo cozido é ótimo para 'lubrificar' as conexões sinápticas.

Continua...

Nas partes 2 e 3 serão abordados os seguintes tópicos:

6. Heurística
7. Poupando energia
8. Combustível "premium" para a mais perfeita das máquinas
9. Exercícios físicos
10. O Aprendizado e suas fases
11. Decoreba versus Memorização
12. Técnicas de Memorização
13. (Bônus) Técnicas de Meditação e Controle Mental
Participe!
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