quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Matematicamente errado

"Você erra 100% dos chutes que não dá!" [Walt Disney]

Esta postagem é uma espécie de continuação de Mate o seu professor de Matemática...

Na verdade, pensei em colocar como título "Mate o seu professor de Matemática - Parte 2", mas... deixemos como está.

Aqui vou falar um pouco mais de nós mesmos, os professores de Matemática.


Ruido na comunicação

Vamos tentar entender porque existe um fosso cheio de crocodilos entre professores de Matemática e alunos.

Exemplo:

Calcule, usando a regra...

-5 + 2 = ?

Geralmente, enuncia-se essa regra do seguinte modo: "subtraem-se os números e coloca-se o sinal do maior."

Agora, veja o seguinte: -5 < 2. Com isto, seguindo-se a regra dada acima, teríamos:

-5 + 2 = +3, pois o maior número é o 2 e o sinal dele é positivo.

Tem alguma coisa errada aqui, não acham? O professor simplificou (demais) a regra para que os alunos entendessem, mas acabou causando uma confusão ainda maior. Se o aluno seguir rigorosamente a regra, tal como foi enunciada, errará muitas questões.

Corrigindo-se...

"A adição de números inteiros de sinais contrários é realizada do seguinte modo: subtraem-se os números e coloca-se no resultado o sinal do número de maior módulo."

-5 + 2 = -3, pois o número de maior módulo é o 5 e o sinal dele é negativo.

Quem poderia dizer quantos outros conceitos e regras da Matemática nos foram passados do mesmo modo?

Outro exemplo:

Observe a figura a seguir. Note que a questão pede para o aluno "encontrar x". Foi o que ele fez... Poderíamos dizer que o aluno errou a questão? Eu diria que não. Ele cumpriu o comando da questão, que pedia para encontrar o x.


Vamos corrigir o enunciado, para que fique mais claro:

No triângulo da figura abaixo, calcule o valor de x.


De cara no muro

Um último exemplo.

A professora coloca no quadro o seguinte problema: 12 pedreiros constroem um muro em 3 dias, trabalhando 6 horas por dia. Em quantos dias um grupo de 15 pedreiros construirão o mesmo muro, trabalhando 4 horas por dia?

A resposta do Joãozinho veio imediatamente: "Nenhum, fessora!" Ao que a professora imediatamente retrucou: "Como assim, nenhum, menino? Deixe de ser preguiçoso e calcule."
A tréplica do Joãozinho: "Preste atenção, fessora, se o primeiro grupo já tinha feito o muro, o que o segundo grupo foi fazer lá, se não há mais trabalho a ser feito??"

Nota 10 para o Joãozinho!

Com base nesses três exemplos, podemos dizer que está havendo uma falha de comunicação entre professores e alunos. Vamos pedir ajuda aos nossos amigos Psicólogos, para tentar entender porque isso ocorre.


Gardner explica (ou não!)

Howard Gardner é um psicólogo cognitivo e educacional estadunidense, ligado à Universidade de Harvard e conhecido em especial pela sua teoria das inteligências múltiplas.

No seu livro mais famoso, Estruturas da Mente, de 1983, Gardner descreve sete dimensões da inteligência (inteligência visual/espacial, inteligência musical, inteligência verbal, inteligência lógica/matemática, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal e inteligência corporal/cinestética).

Desde a publicação de Estruturas da Mente, Gardner propôs duas novas dimensões de inteligência: a inteligência naturalista e a inteligência existencialista. Os testes tradicionais de inteligência só levam em consideração as inteligências verbal e a lógica/matemática. Essa nova teoria tornou-se conhecida como teoria das inteligências múltiplas.
[Fonte: Wikipedia]

Sabemos que professores de Matemática têm a inteligência lógica/matemática no seu pico máximo.

Mas, nosso principal problema está na inteligência interpessoal, pois, levando-se em conta os exemplos apresentados acima, nota-se que a falha básica é de comunicação mesmo. Como podemos dizer que nossos alunos estão errados, se nós não estamos conseguindo dizer-lhes claramente o que queremos? Isto está prejudicando o relacionamento com os alunos.

Bem, eu pensei em pedir ajuda também a Freud, Adler, Jung e outros, mas confesso que não consigo entender muitas das coisas que eles dizem...

O que fazer, então? Gritar "salve-se quem puder!" e deixar o pânico tomar conta da situação? Claro que não!

Vamos continuar trabalhando e aprendendo com os nossos alunos, pois, em termos de comunicação, eles são ótimos professores.

Abraços.
Prof. Milton Araújo.