terça-feira, 7 de março de 2017

Mate o seu professor de Matemática

Como professor dessa disciplina há mais de 44 anos, já ouvi todas as queixas possíveis e imagináveis de estudantes de todos os níveis de escolaridade. Posso afirmar que essa é a matéria mais odiada de todas.

Calma! 

Não estou fazendo nenhuma apologia ao crime... Afinal, também sou professor de Matemática. Pretendo manter minha integridade física e também a dos meus colegas, pelos quais tenho grande apreço.

Explicarei mais adiante o título do post.

Antes vou contar uma história...

Aconteceu lá por 1972. Eu estava na sexta série e estudava no Grupo Escolar Olavo Bilac  na época, também chamado de "Olavinho" − em Santa Maria-RS. Como o Olavinho era praticamente um anexo do Colégio Maria Rocha, nosso recreio era no enorme páteo deste. Foi ali que o fato ocorreu...


Água com açúcar para o professor

No Colégio Maria Rocha, cursavam-se os antigos Clássico e Científico, que depois passaram a se chamar Segundo Grau, e hoje é o Nível Médio (eles mudam bastante o nome da coisa, para que acreditemos que assim a "qualidade" melhora...).

Foram os alunos do curso Científico que decidiram dar água com açúcar para o seu professor de Matemática, ou melhor, para o carro dele, um fusquinha 66. O carro estava no estacionamento do páteo do Colégio. Os estudantes descobriram que a tampa do tanque de combustível não estava travada.
Compraram um quilo de açúcar, misturaram com água e despejaram no tanque do carro. O resultado, todos já conhecem...

Você está rindo??? Pois saiba que não tem graça nenhuma!

Mas afinal, por que eu contei essa história?

Foi para mostrar até onde chega a frustração que a Matemática pode causar em mais de 95% da população. Pior, pode até mesmo ir além disso.

O estudante detesta Matemática e inclui o pobre professor  pobre mesmo! Você já viu um contra-cheques de professor?  no "pacote". A partir daí, passa o ano inteiro bolando mil e uma formas de eliminá-lo, semelhante ao que ocorre no filme "Nine to Five" (Como eliminar seu chefe - 1980).


O título do post

O título deste post serviu apenas para chamar sua atenção para a nossa proposta, que é torná-lo um estudante mais independente no que diz respeito à Matemática.

Em outras palavras, quero convencê-lo de que você é capaz de estudar e aprender essa matéria sozinho. Estou exagerando um pouco... É claro que você precisará de alguma ajuda, mas conseguirá escolher materiais didáticos e cursos alternativos de qualidade e estudar para alcançar rendimento superior aos seus colegas.


Como professor dessa disciplina há 40 anos, já ouvi todas as queixas possíveis e imagináveis de estudantes de todos os níveis de escolaridade. Posso afirmar que essa é a matéria mais odiada de todas.

A culpa por isso não está apenas nos estudantes, que, segundo dizem, não querem saber de estudar. Nós, professores, precisamos assumir nossa parcela de culpa! Estamos falhando em nossa responsabilidade de gerar no estudante a motivação para o estudo.

Muitos estudantes se queixam de que "até tentam" estudar, mas não conseguem entender os problemas, nem encontrar uma forma para resolvê-los. Isto é frustrante e os faz desistir...

O psicólogo e cientista cognitivo Daniel Willingham afirma categoricamente que "nosso cérebro não foi feito para pensar!"

Pesquisas científicas sobre o funcionamento do cérebro têm avançado neste século XXI. As conclusões explicam muitas coisas. Por exemplo:

1. Sabemos que bebidas alcoólicas, cigarros e comida gordurosa e com baixo valor nutritivo prejudicam a saúde e aceleram a morte. Então por que, afinal, o consumo desses produtos não diminui ou acaba?

2. O que leva um consumidor a adquirir um determinado produto e não um similar, quando ambos prometem o mesmo resultado?

Respostas para algumas questões como essas podem ser encontradas no livro de outro psicólogo, o Robert Cialdini, em As armas da persuasão. Mas não é exatamente disto que estamos tratando aqui...

Nosso foco é o aprendizado, e sobre isto, especificamente, o leitor poderá encontrar boas respostas no magnífico trabalho da professora Ana Lopes, através de três vídeo-aulas contidas em seu blog:

(1) Seu cérebro não foi feito para pensar!



Para pensar, o cérebro gasta muita energia e é por isso que pensar cansa. Em se tratando da Matemática, o consumo de energia é ainda maior.

Já comentei em outro post deste blog que, para resolver um problema de Matemática, nosso cérebro gasta tanta energia quanto transportar uma mochila de 20 kg por uma distância de 200 metros, com um calor de 40 graus. Não é à toa que muitos desistem rapidamente da tarefa. É claro que sempre há uma recompensa, mas ela não é visível a curto prazo...

Outro fator é que o cérebro usa de “truques” (heurística) para economizar energia, ou seja, para evitar pensar. A heurística pode nos conduzir a muitos erros cognitivos... Isto nos faz cair naquelas "pegadinhas" que aparecem nas provas.

Caso queira saber mais sobre heurística, assista a esse vídeo da Arata Academy.

Resolver problemas gera prazer. Isso é uma característica do nosso cérebro: saborear o sucesso alcançado e aumentar gradativamente a auto-confiança. O medo de encarar desafios vai desaparecendo e você parte para desafios cada vez maiores.

Assim, você será capaz de dispensar o seu professor de Matemática, ou, metaforicamente falando, "matá-lo"... mas será de surpresa ao ver o seu desempenho.

Abraços e Sucesso!
Milton Araújo.

Leia também a segunda parte deste post: Matematicamente errado

[Publicado originalmente em 08.11.2013]