quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Diário de uma Jovem - Anne Frank


 Fragmento do diário de Anne Frank, escrito no dia 29 de março de 1944.

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Que apavoradas ficam as senhoras, durante os bombardeios! Por exemplo, no domingo, quando 350 aviões ingleses deixaram cair meio milhão de quilos de bombas em Ijmuiden, as casas tremeram que nem folhas de grama ao vento e quem sabe quantas epidemias grassam, agora.

Você nada sabe a respeito disso e eu teria que escrever o dia todo se quisesse contar tudo em detalhe. A gente tem que fazer fila para comprar verduras e tudo o mais; os médicos não podem mais visitar os doentes, pois roubam-lhes os carros se viram as costas um momento; os furtos e roubos são de tal modo abundantes que a gente fica a matutar o que terá se apossado dos holandeses para, de súbito, os transformar em ladrões. Crianças pequenas, de oito ou onze anos, quebram as janelas das casas, entram e roubam tudo que lhes vem às mãos. Ninguém ousa deixar a casa desocupada cinco minutos, pois, saindo o dono, somem as coisas. Todos os dias aparecem anúncios nos jornais oferecendo recompensa pela devolução de mercadoria perdida, máquinas de escrever, tapetes persas, relógios elétricos, fazendas, etc., etc. Desmantelam os relógios elétricos das ruas, despedaçam os telefones públicos, até o último fio. A moral da população não pode ser boa, uma vez que as rações semanais, a não ser o sucedâneo do café, não chegam a durar dois dias. A invasão não vem e os homens têm que ir para a Alemanha. As crianças estão doentes e mal alimentadas, todos usam roupas e sapatos velhos. Uma sola nova custa 750 florins no mercado negro; além disso, sapateiro algum aceita conserto e, se aceita, a gente tem que esperar meses, durante os quais o sapato, frequentemente, desaparece.

Uma coisa boa existe, no meio de tudo isso: é que à medida que piora a comida e mais severas se tornam as represálias contra o povo, aumenta regularmente a sabotagem contra as autoridades. O pessoal dos escritórios de alimentação, da polícia, os funcionários se não trabalham com seus concidadãos e os auxiliam, são delatores e responsáveis pelas suas prisões.

Felizmente, só uma porcentagem mínima de holandeses colocou-se do lado errado.

Sua Anne.