terça-feira, 28 de junho de 2011

Onde estão os novos Ciccillos?

O mundo está mudando muito e muito rapidamente, mas a novidade não figura ainda entre os grandes temas nacionais.

Por Alfredo Behrens, www.administradores.com.br

Bienal São Paulo - Pabilhão Ciccillo Matarazzo
Recentemente passei por uma estátua do Ciccillo Matarazzo na Barra Funda. A placa indicava que ela estaria lá temporariamente até que fosse transferida ao parque das indústrias. Em breve nem indústria teremos, quanto mais um parque para elas.

O mundo está mudando muito e muito rapidamente, mas a novidade não figura ainda entre os grandes temas nacionais. As lideranças de hoje se formaram numa tendência que levou a um mundo em que 1 bilhão de pessoas detêm em torno de 80% da renda. Segundo o antigo presidente do Banco Mundial, as outras 5 bilhões de pessoas ficam com apenas 20% da renda. Nesse mundo, a grande maioria das transações se deu no Atlântico Norte e os portos próximos dessa região têm grandes vantagens comparativas.

Mas, nos próximos 40 anos, o centro gravitacional do mundo econômico se mudará para um eixo determinado pela Índia e a China, que juntas serão responsáveis pela metade do PIB mundial. Uma situação semelhante foi vista pela última vez no início de século 19 e, antes disso, no século 15. Durante a maior parte do último século esses países não somavam nem 5% do PIB mundial.

O mundo será tão diferente que nos custa apreciar a magnitude da mudança em formação. Por isso, vale lembrar que quando finalmente Vasco da Gama chegou a Calicut, na Índia, os melhores produtos que ofereceu aos indianos não despertaram maior interesse entre eles. A Ásia de então era mais avançada e achava os produtos europeus rudimentares.

Porém, em 2050, o mundo terá 9 bilhões de pessoas, serão 3 bilhões adicionais e deles, apenas 100 milhões nascerão nos países hoje considerados ricos. A desproporção do número de pessoas por nascer, por si só já indicaria porque o crescimento dos mercados seria maior na Ásia e na África. Hoje, a Europa se preocupa com a invasão de africanos. Amanhã será a Ásia a se preocupar com isso, a menos que os africanos se aproveitem da sua maior proximidade com a Ásia para concorrer com os nossos produtos.

É claro que estes movimentos deveriam estar incomodando hoje aos brasileiros, banhados, como estamos, apenas pelo Atlântico. Este movimento de dimensões tectônicas terá importantes conseqüências para nós. Pense senão no encolhimento dos portos de Veneza e Gênova a partir do descobrimento da rota de Vasco da Gama ao oriente. Esse encolhimento não se deu de uma hora para outra, mas em menos de um século Veneza e Gênova deixaram de serem portos de referência para se converterem apenas em cidades, bonitas, cheias de historia, mas sem um grande futuro pela frente.

Aqui estamos preocupados em sentarmos entre os grandes de hoje nas Nações Unidas. Penso que deveríamos estar procurando acordos para assegurar ao Brasil uma saída terrestre ao Pacífico. Claro que há o Canal do Panamá e o Estreito de Magalhães, mas eles nunca serviram de muito ao Chile ou ao Peru, serviram? Por que não levantamos a questão da saída ao mar do Mercosul via a Bolívia? Pelo menos serviria a Bolívia que seria um peso menos para o Brasil. Por que não estamos já mais presentes na costa Leste da África, onde poderíamos produzir bem com os moçambicanos, e estarmos mais perto da Índia e da China? Deveríamos estar mais presentes em Macau ou Timor Leste, onde teríamos mão de obra já treinada em português para pelo menos responder aos telefones de São Paulo, onde já nem inglês queremos ensinar aos jovens. Cadê os Ciccillos de hoje? Ficaram tão pequenos que não dá para serem ouvidos?

Alfredo Behrens é professor de Liderança em Gestão Intercultural dos MBAs da FIA – Fundação Instituto de Administração.

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