quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Google e Motorola Mobility: o que esperar dessa aquisição

Investimento de US$ 12,5 bilhões deve, em curto prazo, massificar o Android e fortalecer o parco arsenal de patentes do Google.

Por Eber Freitas, www.administradores.com.br

O mercado de ações entrou em polvorosa na última segunda-feira (15) quando, pela manhã, a Google anunciou a aquisição da divisão da Motorola responsável pela fabricação e comercialização de celulares, smartphones e tablets. A operação foi a mais cara da história do Google: US$ 12,5 bilhões, ou cerca de US$ 40 dólares por ação.

Assim como se deu na compra da Skype pela Microsoft em junho, o valor ofertado pela Google foi irrecusável, uma vez que as ações da Motorola Mobility valiam US$ 24,47 na última sexta-feira (12). Já nesta segunda, as ações da empresa obtiveram um reflexo extremamente positivo da compra, atingindo a cotação de US$ 38,74 no mercado de ações.

Os celulares e tablets da Motorola já funcionavam com o sistema operacional Android desde 2008. O que se pode inferir à primeira vista é que a gigante das buscas na internet pretende desenvolver melhor o sistema operacional, integrando com maior sincronia o software e o hardware. "O principal objetivo, a curto prazo, é consolidar e massificar a plataforma Android", afirma Roberto Gonzalez, professor da Trevisan Escola de Negócios.

Foi nesse sentido que o CEO da Google, Larry Page, declarou as intenções da companhia. Em postagem no blog oficial da empresa, Page disse que "a combinação entre Google e Motorola vai não apenas valorizar o Android, mas também deve acirrar a competitividade [no mercado mobile] e oferecer aos consumidores inovação em ritmo acelerado, maiores possibilidades de escolha e melhores experiências de usuário".

Patentes
Porém o maior triunfo dessa aquisição deve ser o valioso incremento que a Google deve ter no seu leque de patentes. Até o final do segundo trimestre, a companhia contava com cerca de 700 registros, um número extremamente baixo para uma empresa de tecnologia. No final de julho, o Google adquiriu um pouco mais de mil patentes junto à IBM para tentar começar a implementar uma defesa estratégica contra os principais rivais no tapetão.

Por cada celular vendido, a taiwanesa HTC, primeira parceira do Google Android, tem que pagar US$ 5 por unidade comercializada para a Microsoft por ter sido acusada de utilizar a tecnologia desta última nos celulares. Já a Samsung enfrenta uma briga épica com a Apple em tribunais do mundo inteiro por acusações de violação de patentes. Na União Europeia, as vendas do tablet Galaxy Tab 10.1 estão suspensas, e na Austrália o lançamento foi suspenso, ambas por determinações judiciais.

Recentemente, a Google acusou a Microsoft, Apple e Oracle de se unirem para adquirir em conjunto patentes da Nortel, que foram leiloadas como parte do seu processo de falência. A concorrência foi considerada desleal e anti-competitiva pela companhia de buscas.

Uma outra pedra no sapato do Android é o Java. Desenvolvido pela Sun Microsystems na década de 90, a linguagem de programação, que é amplamente explorada nos recursos do sistema operacional do Google, tinha a maior parte do seu código aberta e com a licença GPL (GNU General Public Licence). Isso significa que qualquer desenvolvedor - inclusive o Google - poderia ter acesso ao código fonte e utilizar como bem lhe aprouvesse, com uma condição: manter a tecnologia livre de patentes. Em 2010 a Oracle adquiriu a Sun e reclamou os direitos de utilização e comercialização do Java. E, desconsiderando o Copyleft, quer a sua fatia do bolo conquistado pelo Android.

Com a Motorola, a Google adquiriu junto um pacote de aproximadamente 24 mil registros, que vão desde os itens de hardware até tecnologias para TVs a cabo. Dessa forma, além de proteger o Android nessa guerra de patentes, o Google pode ampliar os horizontes de futuros negócios, inclusive retomar o malfadado projeto Google TV, já que a Motorola é um grande fornecedor de decodificadores e modems para TVs a cabo.

Andy Rubin, vice-presidente do departamento de Mobilidade do Google, afirmou que deve manter o Android como plataforma aberta e, para não prejudicar os demais parceiros, reafirmou que irá manter a Motorola Mobile como uma empresa à parte. "A Google irá se manter comprometido com o Android como um padrão aberto e uma vibrante comunidade open source", garantiu.

Demais players
Com essa movimentação, a Google, que já dominava o mercado de sistemas operacionais para smartphones, passa a ser um concorrente direto da Apple, uma vez que agora integra o mercado de mobile hardwares. Analistas não esperam grandes alterações nessa concorrência em termos de mercado, mas a companhia de Steve Jobs pode desabilitar as aplicações do Google para os seus gadgets, como os Mapas e a ferramenta de buscas.

Especuladores do mercado financeiro chegaram a considerar a possibilidade de aquisição da Nokia, o que levou os papéis da companhia finlandesa a uma valorização de até 9% nesta segunda. A empresa firmou uma parceria junto à Microsoft no começo do ano para utilizar o Windows Phone 7 em substituição ao Symbian, que ficou obsoleto e já está sendo gradativamente deixado de lado à medida em que o sistema operacional da Microsoft é implementado.

A companhia de Bill Gates era a única rival do Android no ramo. Com a aquisição da Motorola, a Microsoft é a única das grandes que desenvolve e comercializa apenas o sistema operacional, sem estar vinculada a um aparelho apenas. Se alguns dos outros 38 parceiros do Android ficarem insatisfeitos ou enciumados, o Windows Phone 7 é a alternativa mais viável para migrar. Vale lembrar que a Motorola enfrenta disputas por patentes contra a Microsoft, e essa briga agora passa a ser da Google.

Para tentar dirimir eventuais dúvidas entre os parceiros do seu sistema operacional, a assessoria de imprensa da Google publicou algumas citações de representantes dos maiores fabricantes de smartphones e tablets. Mas ainda é cedo para prever o comportamento do mercado de dispositivos móveis com essa aquisição. A partir do próximo ano é que será possível mensurar os resultados da movimentação, identificar os erros e novas possibilidades e avaliar como será conduzido esse novo negócio.

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