terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um avanço para a inteligência do petróleo

Hoje, praticamente um terço dos engenheiros brasileiros trabalha para a Petrobras, não apenas de modo direto, mas em toda a cadeia.

Por João Guilherme Sabino Ometto , www.administradores.com.br

Escola Politécnica - USP
Foi de grande importância o referendo, em reunião do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP), à transferência do Curso de Engenharia de Petróleo da Escola Politécnica para a cidade de Santos, importante polo produtor e onde se instalou um centro tecnológico da Petrobras. Além da mudança, o número de vagas será ampliado de 10 para 50. Nada mais pertinente, pois o curso foi criado quando o País produzia 250 mil barris de petróleo por dia. Hoje, são dois milhões e meio e a previsão para 2020 é deoito milhões, conforme explicou, naquele encontro, o professor José Roberto Cardoso, diretor da Poli, esta instituição referencial do Ensino Superior brasileiro.

Também integrante do Conselho, o mestre lembrou que o Brasil forma 38 mil engenheiros por ano, mas apenas um quartodesse contingente tem qualificação adequada. Entretanto, a demanda do mercado é de 60 mil profissionais, dado o advento da indústria do petróleo e do Pré-sal. Hoje, praticamente um terço dos engenheiros brasileiros trabalha para a Petrobras, não apenas de modo direto, mas em toda a cadeia. No ano passado, 21.500 profissionais da área tecnológica ingressaram no Brasil com visto da Dinamarca, numa evidência do "apagão" de recursos humanos em nosso país. No caso do petróleo, a tendência é de agravamento da situação, pois a companhia estatal, hoje com 75 mil funcionários, deverá ter 200 mil em 2020, dos quais 40 mil engenheiros.

Não bastasse essa questão relativa à mão de obra qualificada, o professor Cardoso lembrou que a Petrobras criou um polo tecnológico em Santos, no qual já mantém dois mil funcionários, vários deles do exterior, trabalhando no complexo da indústria do Pré-sal. Pois é exatamente nessa estrutura que deverá instalar-se o Curso de Engenharia de Petróleo daEscola Politécnica. Nada mais pertinente, pois além da proximidade e interação direta com a prática produtiva e a tecnologia aplicada, a transferência atende a uma necessidade de São Paulo e do Brasil.

Assim, foi oportuna e feliz a iniciativa da USP de promover a mudança, que vai ao encontro da premência do Estado decomeçar a pensar de maneira mais ampla e aprofundada na questão do petróleo. Afinal, o território paulista será o grande produtor brasileiro. A despeitodisso, temos dificuldade de encontrar pessoas que dominem o conhecimento dotema.

Toda a inteligência do petróleo está concentrada no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Petrobras e o seu Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). As universidades fluminenses estão aproveitando de modo amplo essas oportunidades, enquanto grandes empresas estão instalando unidades de inovação e tecnologia naquele estado. Nada contra, pois todo esse processo é importante para o Brasil. Contudo, São Paulo também precisa avançar – e muito! - na importante área, pois tirará do fundo do mar a maior parte do petróleo brasileiro. Portanto, não pode ficar para trás.

Grandes refinarias estão sendo instaladas no Nordeste. Isto suscita até mesmo uma intrincada questão de logística. O petróleo é produzido na Baixada Santista, refinado no Nordeste e, depois, transportado novamente para São Paulo, o maior centro consumidor. Trata-se de um custo desnecessário, que certamente mitigará a competitividade de toda acadeia produtiva. É inadmissível manter uma posição de passividade diante de tal quadro, que atenta contra os interesses não apenas dos paulistas, mas de todos os brasileiros, considerando o quanto o petróleo é estratégico para aeconomia nacional.

Assim, a decisão de transferir o Curso de Engenharia do Petróleo da Escola Politécnica para Santos coloca a Universidade de São Paulo, mais uma vez, na vanguarda de um processo decisivo para o estado e a Nação. Trata-se de um exemplo de quanto o olhar consciente e amplo da academia, extensivo à realidade econômica, pode contribuir para o progresso de um país.

João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente do Grupo São Martinho e da Fiesp, coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade e membro do Conselho Universitário da USP.

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