terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os entraves para a internet livre no Brasil


Em meio a uma investigação de crime virtual, o rastreamento do IP feito pela polícia pode levar ao endereço de uma pessoa sem relação alguma com essas ações ilegais.

Por Luiz Oliveira, www.administradores.com.br

Discute-se hoje a possibilidade de manter livre e indiscriminado o acesso às redes wi-fi no Brasil. Este é inclusive um tema polêmico nos Estados Unidos, onde algumas pessoas vinculadas a ONGs defensoras da inclusão digital, como a EFF (Eletronic Frontier Foundation), tomaram essa iniciativa por conta própria, mesmo sabendo que certos provedores repudiam esse comportamento, podendo suspender ou até cortar o serviço.

A causa parece nobre, mas como técnico estou cético quanto a esse modelo, uma vez que o usuário não tem controle, ou mesmo conhecimento, de quem acessa a rede. Nunca se sabe quando alguém de má-fé pode usar esse benefício para cometer crimes como roubo de dados bancários, ou acesso a sites de pedofilia, por exemplo.

Em meio a uma investigação de crime virtual, o rastreamento do IP feito pela polícia pode levar ao endereço de uma pessoa sem relação alguma com essas ações ilegais. Ainda assim, seu ato terá facilitado o delito. É o mesmo que deixar a porta de casa sempre aberta, ou permitir que qualquer um tenha acesso ao seu revólver.

A cada dia mais e mais reportagens mostram que o Brasil ganha a fama de celeiro de hackers. Por isso, livre acesso certamente não é a melhor opção no momento. Inclusive, no ano passado houve um caso no Piauí onde a Anatel multou um usuário em cerca de R$ 3.000,00 por manter a rede aberta.

Creio que medidas como essa devem ser repensadas, pois não auxiliam a reduzir o oportunismo do cibercrime. O usuário ainda é a pedra fundamental da segurança da informação e, muitas vezes, por falta de educação, não passa de uma vítima. Será que nossa população sabe colocar senha num roteador e proteger informações pessoais? Compreende os riscos de deixar a rede aberta? Para um país situado no 88º lugar no ranking mundial de educação da Unesco é até covardia exigir isso.

Nos Estados Unidos, cidades como San José e Mountain View (sede do Googleplex) têm todo o território coberto por uma rede wi-fi gratuita, fornecida respectivamente pelo governo e pelo Google. No Vale do Silício, alternativas como a encriptação de dados são apenas "a cereja do bolo" para a proteção de informações pessoais. Já no Brasil, ainda estamos dando nossos primeiros passos no Plano Nacional da Banda Larga, previsto para 2014. Não sabemos como será esse cenário nos próximos anos, mas aqui ainda são poucas as pessoas e empresas que têm roteador sem-fio.

Um dos maiores empecilhos para essa política serão os impostos. É verdade que hoje com cerca de R$ 30 mensais um brasileiro pode ter acesso à banda larga em sua casa, ainda que com 1MB de potência. Contudo, se tirássemos as taxas impostas pelas operadoras sobre o serviço, o preço ficaria em torno de R$ 7. Isso mudaria completamente a realidade da classe C, a que mais cresce em acesso à internet de acordo com a e-bit.

Para nós, facilitar o acesso não será o suficiente. Carecemos muito de iniciativas educacionais eficazes no ambiente escolar, seja público ou particular. O aluno necessita estar desde o início imerso em noções básicas de tecnologia associadas a questões éticas para que um dia, quem sabe, possamos todos compartilhar a mesma rede.

Luiz Oliveira - é diretor de SMB da Netgear no Brasil

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