quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O paradoxo do medo: de volta ao útero

Moedas como o franco-suíço, dólar canadense, o real do Brasil e o dólar australiano vão ganhando muito lentamente esse espaço alternativo.

Por Celso Grisi , www.administradores.com.br

A S&P foi a primeira. Espero por confirmações, por outras agências, do rebaixamento da nota de risco norte-americana para os próximos dias. Sem entrar no mérito da nota ou do método que a produziu, nada mais brando do que trazer essa nota um degrau para baixo. Afinal, a verificação das dimensões do endividamento e da fragilidade política dos Estados Unidos não fornece mais condições de sustentação da dívida soberana em posições tão altas nos ratings de risco.

Já venho insistindo na ideia da necessidade de diversificação dos portfólios de aplicações de países, empresas e pessoas. O diabo é descobrir que alternativas aos tresuries, seguras como um AA+, poderiam seduzir investidores tomados pelo medo? O euro, acossado pelos mesmos problemas fiscais, certamente não é, nesse momento, alternativa que inspire confiança maior.

O mercado não inicia um processo de substituição do dólar. O processo é apenas de diversificação das aplicações que, ao longo do tempo, implicará um grau de substituição e, mais do que isso, na criação de outros ativos de última instância. Moedas como o franco-suíço, dólar canadense, o real do Brasil e o dólar australiano vão ganhando muito lentamente esse espaço alternativo. O ouro, reduto do conservadorismo e que já vem de sucessivos recordes históricos, volta a ser procurado em meio a essa turbulência a preços ainda mais altos. Prata, platina, estanho, cobre e zinco podem também assumir um pouco desse papel, mas convém lembrar que as oscilações nessas commodities costumam ter intensidade elevadas e podem penalizar investidores afoitos.

As commodities agrícolas, com seus preços elevados, tendem a cair. Grão e fibras em menor intensidade, dada a escassez mundial e ao forte consumo das grandes economias emergentes, como a China e a Índia. Do lado da produção, os problemas climáticos nos Estados Unidos sinalizam para a redução da oferta. Remanesce, entretanto, a dúvida referente ao tamanho do tombo nos preços dessas commodities. A redução no ritmo das economias norte-americana e europeia impacta negativamente as exportações chinesas, reduzindo o nível de atividade do país, o emprego e, por via de consequência, a renda do consumidor chinês. O menor consumo chinês deprime os preços dos alimentos e das exportações de produtos agrícolas brasileiros.

Petróleo e petroquímicos sofrerão igualmente com a redução da procura mundial, e apresentarão quedas significativas em Londres e Nova York. Imóveis, nos países desenvolvidos, são mercados combalidos e não refeitos desde 2008, enquanto opções de reserva de valor. Nos países emergentes, a especulação inflou as bolhas imobiliárias e a crise atual deve ser uma agulha de ponta fina a ameaçar suas flutuações na atmosfera econômica. Devem estourar logo, logo.

Não há, portanto, para onde correr. Resta-nos o AA+ e, por isso, o medo produz o paradoxo do rebaixamento da nota significar uma corrida para a nota mais baixa. Apavorado o investidor volta ao útero do mercado financeiro mundial. Ali ele se põe em sossego.

Celso Grisi é diretor presidente do Instituto de Pesquisas Fractal, empresa especializada em pesquisas financeiras.

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