terça-feira, 27 de setembro de 2011

Com um sócio destes, quem precisa de patrão?

Não tenha a ilusão que seu sócio será benevolente, e terá a compaixão que você esperava que seu chefe tivesse na época em que você era funcionário.

Por Beatriz Helena Schulze , www.administradores.com.br

O sonho de ter o próprio negócio, ser dono do próprio nariz, faz parte de nossa cultura. Eis que – um belo dia – você resolve torná-lo realidade:dá uma reviravolta na sua vida profissional, associa-se a um parceiro com os mesmos ideais e abre uma empresa. Bem, aí chegou a sua hora de ser chefe – ou meio chefe, já que o sócio está ali, presente, trabalhando junto. E é nesse momento que você tem de se testar como líder, dividindo as responsabilidades com um outro profissional que, naquele espaço, deixa de ser o amigo do fim de semana para se transformar no sócio que – como você – quer resultados.

Como sócio, você não terá horário de trabalho, nem para dormir. Muito menos para comer e fazer suas necessidades básicas. E as cobranças e atitudes que antes você questionava no seu antigo ambiente de trabalho passam a ser as cobranças feitas por seu sócio. Aí você para e se questiona: Afinal, com um sócio destes, quem precisa de patrão?

Não tenha a ilusão que seu sócio será benevolente, e terá a compaixão que você esperava que seu chefe tivesse na época em que você era funcionário.

Quando o profissional passa a responder também por estratégias comerciais, financeiras, marketing, pessoas (além das tarefas diárias, inerentes a sua formação ou natureza de seu negócio), naturalmente passa a se cobrar mais - e seu sócio também.

Você se depara com ideias totalmente diferentes das suas, e pode em alguns momentos até ter um sentimento nostálgico da época em que era funcionário, quando o máximo que te exigiam era dar resultados. Agora, como sócio, você além de dar o resultado desejado, precisa buscar quem solicite estes resultados.

Por exemplo, se você trabalha com serviços, precisa pensar em como torná-los suficientemente atrativos aos seus clientes. E também como gerar valor para este cliente de uma forma que ele perceba – independente destes serviços serem tangiveis ou intangiveis. E um jeito é fazer uma reunião entre os sócios e discutir as ideias. Assim, o que antes pareciam horas e horas jogadas ao vento, agora passa a fazer sentido e ser essencial ao negócio. Lembra aquela época em que você era funcionário e era convocado para as reuniões e pensava "lá se vão mais duas horas preciosas do meu dia"? E muitas vezes entrava e saia da reunião com a sensação de que nada mudou, a não ser o fato do seu chefe, ficar te olhando com aquele olhar 43, do tipo "depois a gente conversa"? Pois, é... Esta época passou.

Agora está você lá, do outro lado da mesa. Quem vai te olhar, te chamar e te sacudir ali mesmo na frente dos demais é o seu sócio. E na maioria das vezes o consenso não é assim imediato, existe uma exaustão para a defesa de ideias e posicionamentos. Muitas vezes vai parecer que um furacão passou por ali - e todos sabem o acontece quando passa um furacão: tudo é devastado e é preciso recomeçar. Mas os sobreviventes de um furacão erguem-se fortalecidos e com mais ousadia e vontade de arriscar algo novo.

E neste momento você vai sentir que sabe mais do que sabia ontem e que com certeza o amanhã será mais um dia de aprendizado. Vai olhar para seu sócio e agradecer por ele estar a seu lado, por te compreender (mesmo sem entender), por aguentar tuas manias e chatices, por escutar tuas opiniões e te fazer se sentir importante, por fazer você perceber que vale a pena trabalhar junto e que a cobrança faz você estar sempre com os pés no chão.

As cobranças e divergências fazem parte do processo – e vão fazer sempre. O importante é aproveitar todos os momentos como um aprendizado, independente do lugar ou posição que você ocupa (sócio, chefe, funcionário). Porque admiração, respeito e confiança são construções diárias e que passam pela diferença nas ideias, pela administração de conflitos e por uma genuína conciliação de objetivos, interesses e paixão pelo trabalho realizado. Por isto toda vez que alguém te chamar atenção, te repreender, te sacudir, agradeça. Pois com certeza esta pessoa quer que você cresça e se torne melhor a cada dia.

Beatriz Helena Schulze - é consultora na área de Gestão de Pessoas. É especialista em Gestão Estratégica de Pessoas de Pessoas pelo INPG/SC, tem formação em Orientação Profissional pelo Instituto do Ser/SC e é Psicóloga formada pela ACE/SC. É professora da disciplina de Psicologia Organizacional, na Anhanguera Educacional/SC e das disciplinas de Gestão de Pessoas e Relações Interpessoais no SENAI/SC. Sócia da Consultoria LiseChaves pessoas, estratégias e resultados (SC)

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