terça-feira, 20 de setembro de 2011

Por que o futebol brasileiro sempre foi o melhor do mundo mas vivia à beira da falência?

Do futebol às empresas, transferir atividades de retaguarda é o caminho.

Por Jan Eichbaum, www.administradores.com.br

Já que vivemos no país do futebol, vamos analisar a situação dos clubes nacionais e o que vem acontecendo nos últimos anos. Apesar de termos a seleção pentacampeã mundial e o Brasil ser considerado um celeiro de craques, vemos nossas agremiações enfrentarem crises financeiras, perderem ótimos jogadores para clubes do exterior e obtendo exposição internacional muito baixa.

Como um esporte que é a paixão nacional e movimenta bilhões em recursos pode viver esse cenário ano após ano? Como os clubes europeus podem ser tão mais estruturados e estarem anos-luz à frente de nossos clubes?

Recentemente, essa situação começou a mudar, quando os clubes passaram a entregar áreas importantes (como as de marketing, medicina, condicionamento físico e de gestão tecnológica e administrativa) para profissionais ou empresas com expertise e visão estratégica. Tais especialistas atuam como detalhistas de seus setores, contribuindo para melhorar a dinâmica da gestão das agremiações.

A partir de então, temos visto diversos clubes brasileiros se reestruturando, apostando em ações e estratégias de marketing, trazendo de volta grandes craques, aproveitando o valor de seus principais símbolos, mobilizando e estimulando as torcidas e criando as mais diversas ações que evidenciam sua presença e reforçam os pilares que dão sustentação a sua administração, redundando na sustentabilidade e no equilíbrio dessas verdadeiras instituições nacionais.

Com a contratação de especialistas para tocarem as atividades de retaguarda – utilizando tecnologia para avaliar e acompanhar o desempenho de seus atletas, para produzir estatísticas sobre a atuação dos adversários ou para permitir um melhor planejamento da preparação física, técnica e tática – os clubes podem se concentrar naquilo que interessa mais: o futebol e o principal objetivo que é a conquista de campeonatos e torneios, isto é, o "core business" dos times.

Aproveitando a referência, toda empresa possui um core business e, independente de qual ele seja, processos contábeis, fiscais, folha de pagamento e rotinas do departamento financeiro são algumas tarefas essenciais para sua sobrevivência, que consomem tempo, recursos e esforços para serem mantidas funcionando com eficiência.

Neste momento imediatamente posterior à grave crise financeira internacional vivida em 2008/2009, ao recrudescimento de problemas na economia global e diante dos grandes desafios que se apresentam para o mercado no breve futuro, torna-se essencial que as empresas estejam preparadas e em constante atualização. E é aí que surgem as terceirizações de áreas internas, que estão enquadradas sob um termo emprestado do inglês: Business Process Outsourcing (BPO). O objetivo principal das empresas que adotam esse processo é contar com especialista para prover serviços dedicados a tarefas específicas, não ligadas ao chamado core business, para garantir que os maiores esforços e o foco das organizações sejam direcionados ao seu objetivo primordial.

Construir uma parceria de BPO pode trazer inúmeros benefícios aos empreendimentos. É claro que um item primordial na lista da maioria das empresas que procuram por esse tipo de parceria é a redução de custos. Mas os benefícios não param por aí: a escolha dos melhores profissionais – com qualidades já conhecidas pela contratada – para atuar no cliente também é um diferencial.

Para atingir um status de excelência e prestar serviços de qualidade e com diferenciais para seus clientes, as empresas que oferecem serviços de BPO mantêm-se em constante atualização. Nos últimos anos, o Brasil e o mundo têm convivido com transformações e novas regulamentações das áreas fiscal e contábil, sendo cada vez mais necessária a atualização e treinamento de profissionais, o que se torna muito oneroso para empresas não especializadas. De pequenas empresas às grandes corporações, a tendência é que todos os empreendimentos necessitem se adaptar aos novos procedimentos de controle e aos padrões contábeis internacionais (IFRS, ou International Financial Reporting Standarts), cuja implantação vem se consolidando no Brasil desde o final de 2007.

Além disso, vale destacar que, de tudo que os serviços de BPO têm a oferecer às empresas, talvez o maior benefício seja propiciar uma visão estratégica especializada colocada em prática. Afinal, o melhor caminho em tudo (do futebol à gestão de empresas) é não se limitar a fazer o básico, mas sim apostar em novas ideias, diferenciais e soluções inovadoras, que, em geral, estão mais presentes no campo dos especialistas.

Voltando ao futebol, os clubes que estão se reestruturando já formaram grandes equipes ou ganharam títulos de expressão? Nem todos, mas, certamente, têm constituído os alicerces de sua sustentabilidade, o que tende a trazer resultados no futuro. É importante também destacar que um serviço terceirizado ajuda em diversas áreas da empresa. Entretanto, o sucesso desta não depende apenas de uma boa gestão formal. A empresa deve ter claro seu foco de atuação e seus objetivos para que o BPO possa ajudar a alcançá-los.

As empresas brasileiras estão vivendo neste momento um amadurecimento que tem sido estimulado inclusive pelo crescimento do uso de serviços técnicos especializados, e muitos gestores têm percebido que a transferência da gestão de alguns serviços é uma peça-chave para que as corporações ponham em prática uma governança corporativa equilibrada. Avaliar essa estratégia é, portanto, uma importante decisão para os gestores empresariais.

Jan Eichbaum - é sócio da área de Business Process Outsourcing da KPMG no Brasil.

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