quinta-feira, 7 de julho de 2011

O momento das fusões e aquisições no Brasil

De acordo com a última pesquisa divulgada pela KPMG, entre janeiro e março deste ano, foram registradas 167 transações de fusões e aquisições, melhor resultado da história da pesquisa.

Por Miguel Abdo, www.administradores.com.br

Após o recorde de fusões e aquisições registrado no ano passado, os resultados já alcançados em 2011 mostram que este mercado continua aquecido. De acordo com a última pesquisa divulgada pela KPMG, entre janeiro e março deste ano, foram registradas 167 transações de fusões e aquisições, melhor resultado da história da pesquisa. Em relação ao mesmo período de 2010, o aumento na quantidade de transações foi de 4%. A maioria das transações ainda envolve apenas empresas brasileiras, com 82 operações, ou seja, cerca de 50% do total.

A perspectiva é que esse ritmo continue ao longo do ano, principalmente no segmento de pequenas e médias empresas. Esse mercado encontra-se atualmente bastante pulverizado e a tendência é que essas empresas se unam para criar players mais fortes e competitivos. Os setores que devem ser destaques em 2011 são de serviços, TI, cadeia de óleo e gás, infraestrutura e de varejo especializado.

No mundo dos negócios, razões para buscar boas opções de compra no mercado não faltam. Principalmente, o crescimento da economia brasileira torna as nossas companhias uma boa opção de investimento para empresas estrangeiras que pretendem diversificar seus negócios. O aumento do consumo das classes B e C impulsionou as atividades no Brasil, o que tornou o País alvo de investidores de outros países. Segundo o Instituto Data Popular, a classe C gastou em produtos e serviços para o lar o equivalente a R$ 242,9 bilhões em 2010, enquanto as classes A e B juntas gastaram R$ 217,4 bilhões.

As empresas encontram nas fusões e aquisições benefícios como ganhos em economia de escala; redução de custos; capacidade de investimento em novos projetos ou produtos; aumento do poder de barganha diante de clientes, distribuidores e fornecedores; e remoção de um concorrente potencial para consolidação no mercado. Essas transações também são feitas para conseguir capitalização e vantagens fiscais.

Se bem conduzidas, as negociações ajudam a melhorar a administração dos negócios e possibilitam ganhos em sinergias, aumentando assim a eficiência das empresas. Algumas fontes de sinergia são a complementação e melhoria no mix de produtos; aperfeiçoamento na rede de distribuição; e economia de escala obtida por meio do maior poder de barganha, diminuição de custos fixos e incorporação de novas tecnologias.

Como exemplo de uma operação recente, podemos citar as aquisições do Banco Panamericano e da rede varejista Casa & Vídeo pelo banco de investimento BTG Pactual, combinando varejo com financiamento direto ao consumidor. Ressalto que uma das principais alavancas de rentabilidade do varejo são as receitas financeiras advindas de operações de crédito ao consumidor direto.

É importante destacar o caso em que a venda da empresa acontece devido à ausência de um sucessor. Muitos encontram dificuldades em encontrar alguém com competência na própria família que assuma o comando dos negócios, ou até mesmo que deseje ocupar tal posto. A venda, nesse caso, torna-se a melhor solução para o entrave. No Brasil, 90% das empresas são familiares e 70% dos negócios desaparecem com a morte do fundador. Além disso, somente entre 10% e 15% das empresas familiares conseguem chegar à terceira geração e apenas 4% conseguem ultrapassar os 100 anos.

Em todas as situações, para adquirir ou unir-se a outra empresa, é preciso atenção e cuidados minuciosos. Um processo mal conduzido pode tornar a oportunidade de um grande negócio em um grande problema. É preciso cuidados desde a avaliação financeira até a integração.

As empresas precisam estar preparadas para integrar culturas, histórias, processos e objetivos até agora distintos. Assim, mesmo que a negociação financeira tenha sido um sucesso, o futuro do novo negócio dependerá de como a empresa irá conduzir a união das duas empresas.

É importante ressaltar que as empresas são feitas por pessoas e é recomendado comunicá-las corretamente sobre o processo. Se todos estiverem envolvidos, a transição será muito mais tranquila. Considerando que, muitas vezes, o processo envolve a renovação e a redução de equipes, a comunicação é uma forma eficaz de gerenciar este processo e tranqüilizar a equipe.

Independente do porte e da nacionalidade da empresa, os primeiros três meses são os mais difíceis e precisam, necessariamente, de estruturação e planejamento. Somente com este dois requisitos, a transação, de fato, pode se concretizar em um grande negócio.

Miguel Abdo - é diretor da Naxentia, empresa especializada em transições críticas, principalmente reestruturação e turnaround.

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